A Magia do Rádio

Recepção de Imagens através frequências de rádio.

Uma das actividades que me dá prazer é a recepção de imagens transmitidas por rádio — sejam elas enviadas por satélites meteorológicos, estações costeiras ou até por astronautas em órbita. Durante algum tempo intercetava essas comunicações manualmente, mas com o passar do tempo decidi automatizar todo esse processo. Utilizando como base scripts em Linux e equipamento adequado, consigo captar diariamente imagens fascinantes da Terra quase em tempo real, mapas meteorológicos e transmissões em Slow Scan Television, tudo a partir de casa. É um hobby técnico, mas extremamente recompensador.

Imagens de Satélites NOAA e METEOR

Todos os dias, satélites como os NOAA (dos EUA) e os METEOR (da Rússia) sobrevoam o território português em órbitas polares. Estes satélites transmitem imagens da superfície terrestre e da atmosfera, permitindo observar formações de nuvens, frentes meteorológicas, fenómenos atmosféricos e até incêndios florestais em tempo real. Para a recepção destas satélites utilizo uma antena QFH (Quadrifilar Helix), que permite captar sinais de qualquer direcção, desde que o satélite esteja acima dos 25 graus de elevação. Esta antena está ligada a um receptor SDR (Software Defined Radio). Os satélites NOAA transmitem em formato analógico APT (Automatic Picture Transmission), resultando em imagens bastante nítidas. Já os METEOR transmitem no formato digital LRPT (Low Rate Picture Transmission), com imagens de alta resolução.

Recepção de Weather Fax (WEFAX)

Outra componente é a recepção de WEFAX, imagens meteorológicas transmitidas via ondas curtas (HF) por estações costeiras espalhadas pelo mundo. Este método, ainda é utilizado na navegação marítima, fornece mapas de pressão atmosférica, sistemas frontais e previsões de tempo a larga escala. Para esta tarefa, utilizo uma antena circular activa, ideal para captar sinais fracos e provenientes de grandes distâncias, com a vantagem de eliminação de interferências locais. Os scripts estão programados para que o SDR sintonize as frequências correctas nas horas previstas de transmissão — como as estações de Northwood (Reino Unido) ou DDH3 / DDK6 Hamburg. O sinal é gravado, processado e transformado em imagens. É impressionante como esta tecnologia, apesar de antiga (1924), continua funcional e útil, especialmente quando a propagação está favorável.

Recepção de SSTV.

A recepção de imagens SSTV (Slow Scan Television) é um modo de transmissão de imagens fixas por rádio, bastante popular entre radioamadores. Estas imagens são transmitidas em várias bandas, nomeadamente em VHF, e podem ser transmitidas tanto a partir de estações terrestres como diretamente da Estação Espacial Internacional (ISS).

Para a recepção terrestre, normalmente é a frequência 14230 MHz, onde radioamadores transmitem imagens SSTV em vários modos (como Martin, Scottie ou Robot). A antena circular activa também serve para estas receções, o áudio da transmissão pode ser automaticamente convertida com software especifico, como por exemplo o QSSTV, a que uso. A recepção a partir da Estação Espacial Internacional (ISS) é especial. Em ocasiões específicas, normalmente durante eventos comemorativos ou educativos, a estação espacial transmite imagens SSTV enquanto sobrevoa a Terra. Quando a passagem por Portugal é favorável, é possível obter imagens direitamente do espaço, transmitidas pelos próprios astronautas. Também é possível escutar a voz dos astronautas por radio, num modo FM. Tal como com os satélites meteorológicos, o sistema detecta automaticamente as passagens da ISS, sintoniza a frequência de 145.800 MHz, grava o áudio e converte-o em imagem. A qualidade pode variar com a elevação da passagem e as condições atmosféricas, mas quando tudo corre bem, o resultado é absolutamente fascinante.

Um Olhar Técnico e Pessoal

Para mim, tudo isto representa mais do que um passatempo: é uma forma de contacto directo com o mundo da rádio, da meteorologia e até do espaço. Saber que posso receber imagens e dados, quer de satélites em órbita polar, quer de estações terrestres a milhares de quilómetros, ou até da Estação Espacial Internacional, é algo que me entusiasma bastante. Graças à flexibilidade do Linux e às capacidades dos SDRs, consegui automatizar por completo todo este processo de captura. A cada dia, novas imagens são captadas e guardadas — mapas, previsões, fotografias do espaço — e tudo sem que eu precise de intervir. É uma verdadeira estação meteorológica e espacial caseira. Recomendo esta experiência a qualquer pessoa interessada nesta tecnologia, os resultados são visíveis e o entusiasmo é difícil de explicar — só mesmo recebendo uma imagem do espaço para se perceber a magia envolvida.